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quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O Livro dos Níveis de Treinamento

Olá pessoal! Vamos começar uma série nova aqui na Canto dos Bichos, sobre adestramento com clicker baseado no livro Level Book, de Susan Ailsby, com tradução livre feita por mim e autorização da própria autora para publicar a versão em português neste site.
É uma série com 26 capítulos, fora a introdução que postarei agora, cada um deles dedicado a um comportamento para se trabalhar com o cão em vários níveis de dificuldade.
Leiam a introdução, pois ela explica direitinho o propósito do livro. Após, postaremos aos poucos cada comportamento. E divirta-se com seu cão!

INTRODUÇÃO
Para competir em torneios de obediência, o cão deve aprender a sentar (nível de competição), ficar parado, deitar, ficar em todas as posições por tempos variados, andar junto e vir quando chamado. Para competir em agility, o cão deve saber “ondular” (passar pelo slalom), pular, passar por túneis, andar na passarela e na gangorra. Pastoreio, caminhadas, schutzhund, conformação, trilhas na água, flyball, faro, busca, freestyle – todo tipo de esporte canino têm suas necessidades. A maior causa de “falhas” não é devido ao treinamento em si, mas em outras pequenas coisas.

Os cães chegam nas competições exaustos da viagem de carro. Passam todo o fim de semana sem sossego. Eles investem e mordem outros cães. Se assustam com barulhos altos e estranhos. Choram e uivam nas suas caixas de transporte. No meio da apresentação, querem ver outros cães e pessoas. Fingem trabalhar, mas sem qualquer trabalho de equipe. Ou se apresentam brilhantemente fora do ringue e perdem completamente a cabeça dentro dele. Adestradores e cães voltam para casa frustrados e chateados.

A “informação secreta” que falta para os adestradores é: um grande cão de competição necessita das MESMAS habilidades que um cão de estimação. O quão longe o adestrador vai para chegar à perfeição de determinado comportamento depende inteiramente dele. Claro que um cão de estimação não precisa do mesmo grau de treinamento que um cão de serviço. Para obter o título de obediência nível um, não é necessária a mesma quantidade de adestramento que um cão que participe de provas de agility. As habilidades BÁSICAS, entretanto, são as mesmas, e é sobre elas que o livro fala.

Quando você completar o Nível Um, começará a ver que você pode se comunicar com seu cão.

Um cão de Nível Três tem a maioria das habilidades que precisa para ser um ótimo companheiro. E mais: você terá as habilidades necessárias para ensiná-lo qualquer comportamento a mais que você deseje.

No Nível Cinco, você e seu cão realmente se comunicam e já têm a maioria das habilidades assim como muitos comportamentos, os quais levam diretamente a habilidades específicas necessárias para determinados esportes. Você trabalhou bastante em atenção, trabalho de equipe e duração do comportamento.

Nível Seis e Sete – agora, você começa a entrar em nível competitivo e cães de serviço. Um cão de Nível Seis está a um passo de um título de competição, porque tem todos os comportamentos necessários. Neste tempo, treine habilidades para competição, como concentração, trabalho de equipe, desejo e habilidade em aprender, busca por resultados e entender que, para conseguir o que ele quer, deve descobrir o que você quer e dar-lhe isto.

Podemos fazer tudo ser possível. Por quê? Simplesmente porque o cão já sabe que vocês são um time. QUEREM aprender coisas novas. Entendem auto-controle. Ficam descontraídos perto de outros cães, pessoas, equipamentos e situações.

Os comportamentos abaixo são passos importantes para transformar o cão em um parceiro e membro da equipe. Nos níveis finais, o adestrador pode escolher meios específicos do seu próprio interesse, ou, trabalhá-los ainda mais para dar ao cão maior versatilidade:
1.Vem. De ir de uma pessoa para outro, a vir através de outros cães e pessoas, para um Chamado formal.
2. Contatos. Uma habilidade do agility com aplicações para muitas áreas. Você pode parar o cão onde você estiver, quando você quiser.
3. Crate. O cão aprende a ficar confinado em casa, no carro e no veterinário. Para entrar na caixa de transporte de boa vontade e permanecer nela – calmo, quieto e relaxado.
4. Distância. O cão aprende a responder a chamados perto e LONGE de você.
5. Deita.
6. Deita-fica. À vista, fora de vista, confiante e calmo.
7. Finish. Movimento lateral para obediência e agility. O cão fica a sua esquerda.
8. Frente.
9. Vá para a cama. Coloca o cão em qualquer lugar para que você possa fazer o que precisa com o cão calmo e confiante fora do caminho.
10. Deixa ver. Mexer no corpo do cão em qualquer circunstância, cortar as unhar, escovar o pêlo, fazer curativos etc.
11. Junto. Concentração total e controle total.
12. Lição de casa. Várias questões para dar ao adestrador um bom fundamento da teoria por trás do treinamento.
13 e 14. Salto em altura e em distância. Qual esporte NÃO requer um salto confiante e entusiasmado?
15. Andar com a guia frouxa. É uma das coisas mais difíceis a se ensinar ao cão!
16. Pé na Estrada. Concentração no treinamento de todos os comportamentos em lugares estranhos, dois níveis abaixo daquele onde você está, garantindo ao cão que seja capaz de executá-lo em muitos lugares e garantir que o adestrador entenda que “ele faz em casa” NÃO é um bom indicador que ele pode fazer em qualquer lugar!
17. Busca. Indicador da verdadeira comunicação entre cão e pessoa.
18. Cheiro. Um pouco de diversão para seu plano de treinamento.
19. Senta.
20. Senta-fica.
21. Parado.
22. Parado-fica.
23. Alvo. Com a pata e com o focinho, o targeting é a base de centenas de comportamentos e é um jeito fácil de conseguir muitos outros.
24. Truques. Os truques são usados para explicar as várias maneiras existentes para se capturar um comportamento, para ensinar o cão e o adestrador a serem criativos e para lembrar ao adestrador o motivo dele ter pego um cão.
25. Olha. Um comportamento de duração e concentração difícil e importante.
26. Zen. Quanto mais o cão quer uma coisa, mais ele terá que pensar em como fazer o que o ADESTRADOR quer. Uma explicação perfeita da vida e do adestramento!
O resto é com você. Vamos clarear alguns pontos e, então, começar.

OS NÍVEIS
Os Níveis são um exemplo de “divisão”. Todas as coisas gerais que o cão precisa saber são divididas em comportamentos específicos (como Senta e Alvo), e então divididas em pequenos pedaços que, salvo problemas de comportamento, podem ser ensinados em poucas semanas ou meses. Os Níveis são feitos para dar aos cães e aos adestradores um caminho claro de seguir, lembrar coisas que podem ter sido esquecidas no treinamento, e uma boa amostra de habilidades necessárias. Cada comportamento começa facilmente, e fica mais e mais difícil ao longo do progresso da dupla cão e adestrador através dos Níveis. Habilidade é baseada em habilidade, competência em competência.

O tempo que cada cão e adestrador leva para passar de Nível depende de muitas coisas – a habilidade e experiência do adestrador, a quantidade de tempo gasto diária ou semanalmente (ou mensalmente) no adestramento, seja ele o tempo gasto na superação de problemas, como falta de interesse nos petiscos, ou adestramento anterior que o cão tenha tido. Estes Níveis foram feitos para que adestradores e cães comuns fiquem em um determinado Nível por dois ou três meses. Mas isto varia muito, principalmente com o tempo gasto no treinamento, ou seja, quanto mais se treina, mais rápido os objetivos são alcançados. Exemplo: uma pessoa se dedica 8 horas semanais no adestramento e a outra o faz quando bem entende. A primeira consegue terminar o Nível Três em três meses de adestramento, enquanto a outra demora um ano para atingir o mesmo objetivo.

CAPTURANDO COMPORTAMENTOS
Existem três maneiras úteis de se capturar um comportamento.

CAPTURAR: Cães não dormem de pé. Até mesmo o filhote mais ativo deitará uma certa hora. Clique quando isto acontecer. Vantagem – totalmente fácil para o adestrador e o único jeito de capturar movimentos como se chacoalhar e espirrar. Desvantagem – não é útil para comportamentos que o cão não faz naturalmente. Dica – se organize para atingir o sucesso. É mais provável que um cão molhado se chacoalhe que um cão seco.

ATRAINDO: Use um petisco ou um alvo para mover a cabeça do cão para capturar o comportamento que você deseja. O focinho é atraído para cima, a cauda se abaixa, voila, ele sentou! Vantagem – fácil para cão e adestrador, a maneira mais rápida de capturar vários comportamentos, e a maioria das “atrações” produz um comando gestual automático para o comportamento. Desvantagem – se você usar este método com freqüência, o cão não executará o comportamento sem ver o petisco. Também dá ao cão a opção de decidir que o comportamento não vale o petisco (como ir para a caixa de transporte). Dica – livre-se deste método o mais rápido que puder.

MODELANDO: divida o comportamento em pequenas partes e recompense o cão por conseguir realizar cada uma. Vantagem – permite que você capture comportamentos que não conseguiria obter de outra maneira, ensina o cão e o adestrador a serem criativos, supera o medo ou a relutância de realizar pequenas partes ao invés de dar grandes saltos – “Não estou pedindo que você entre na caixa de transporte, só estou pedindo que você OLHE para ela...”. Desvantagens – difícil de começar sem alguém que lhe mostre como fazê-lo. Requer que o adestrador pense. Dica – no começo, escreva uma lista de pelo menos dez passos para cada comportamento, e se você nunca modelou um comportamento antes, comece com algo que não seja tão importante para você (o cão rolar, ao invés de andar junto), aí você pode ficar frustrado, mas não histérico.

No adestramento, estes três métodos raramente estão isolados. O adestramento envolve a combinação engenhosa de todos os três em uma explicação que o cão facilmente entende.

MÃOS QUIETAS, CORPOS QUIETOS, BOCAS QUIETAS
Quando um bom cavaleiro faz sua rotina com seu cavalo, parece que não está fazendo nada. Suas mãos mal se movem, seu corpo mal se move e qualquer palavra que diga é apenas um sussurro. Este é o ideal também para o adestrador de cães – mãos, corpo e boca quietos. Concentre-se no que suas mãos, seu corpo e sua voz dizem ao cão. Ele aprenderá mais rápida e facilmente quando não se distrair devido a sons e movimentos.

CLICK = PETISCO
O click diz ao cão que ele fez o que você queria. Você vai para o trabalho, no fim da semana é pago. O cão vai para o trabalho, quando ele ouve o click, ELE é pago. TODO CLICK É SEGUIDO DE UMA RECOMPENSA. O click SIGNIFICA petisco. Não precisa ser sempre um petisco – pode ser um brinquedo, cabo de Guerra, carinho, passeio ou qualquer outra coisa que ele queira. Por ser mais fácil de entregar e facilitar o treinamento, a comida será a “arma” primária.

Outra parte importante do adestramento com clicker é que O CLICK TERMINA O COMPORTAMENTO. Se você pede por um Senta-Fica de 10 segundos e você clica quando os dez segundos acabam, O COMPORTAMENTO ACABOU. Se o cão continuar no lugar enquanto você dá a recompensa, tudo bem, mas, se ele se sentar e vir até você para pegá-la, tudo bem também. Se você quer trabalhar com “dar uma volta por trás dele para que ele fique na posição junto”, você clicará quando estiver atrás dele, ou não até que você esteja de volta na posição. O click termina o comportamento.

80% CERTO ou DEZ VEZES CERTO, UMA VEZ ERRADO ou 300-REPETIÇÕES
Não é fácil decidir quando pedir mais ao cão. Ele executa um Deita-Fica por 5 segundos – oba, quem iria imaginar que este pequeno filhote CONSEGUIRIA ficar no lugar por 5 segundos? Mas e agora? Você continua a praticar o Fica de 5 segundos para sempre, ou o quê?

Existem três maneiras de medir o sucesso. A primeira é de Bailey. Quando você obtém 80% de sucesso, peça mais. Ou seja, se você pratica um Deita-Fica de 5 segundos e ele executa 6 de 10 certos, acertou apenas 60%. Você precisa praticar mais neste nível (ou menos, se for realmente ruim). Quando ele conseguir 9 acertos, será 90%, e você pode pedir um Deita-Fica de 6 segundos.

O segundo é da autora deste livro, Sue Ailsby. Quando ele executar dez vezes corretamente, você pode deixar ela errar uma vez. Ou seja, se ele executa um Deita-Fica de 5 segundos dez vezes, você pode dar um pulinho e pedir que ele fique por seis segundos. Na verdade, é muito parecido com o de cima, porque a maioria das pessoas acaba fazendo oito ao invés de dez vezes.

O terceiro é geralmente referido a “300 Repetições”, referente a duração. Partindo do zero, peça um Deita-Fica de 1 segundo. Click e recompense (click and treat – C/t). Então, 2 segundos. 3 segundos. 4 segundos, 5 segundos. 6 segundos. 7 segundos oops, ele errou. VOLTE PARA UM SEGUNDO, comece de novo e faça os mesmos passos. O próprio cão lhe dirá onde está o início do entendimento, e quando poderá avançar. Se você pensar, é o mesmo processo dos outros dois. Quando você trabalha em um Deita-Fica de 10 segundos, você fará 10 C/t e depois pede para ficar 11 segundos. E quando você chegar em tempos onde não serão mais necessários intervalos de 1 segundo (352 segundos, 353 segundos...) você pode aumentar os intervalos em 5 ou 10 segundos. Deixe que o cão lhe diga quando.

COMANDOS
Cães são animais supersticiosos. Eles observam cuidadosamente uma coisa para predizer outra. O som da geladeira abrindo prediz comida. O som do carro na rua prediz que o dono está chegando em casa. Eles aprendem predições que nós nem nos damos conta. Por exemplo, quando estou me aprontando para sair, minha Whippet não tem como dizer se estou ou não planejando levá-la comigo, mas se estou, ela irá pular e abanar a cauda e, se eu a deixar para trás, ela logo deitará na cama.

Sem dúvida que eles aprendem comando, não importa o quão descuidados somos quando estamos lhes explicando.

Para nossos propósitos, o cão aprenderá a responder melhor aos seus comandos se você os introduzir corretamente.

Quando você explica um novo comportamento, não diga nada. Deixe o cão se concentrar em aprender o que você quer. Primeiro consiga o comportamento. Então, espere que o cão o ofereça por conta própria. Uma vez que você saiba que terá o comportamento desejado, pode começar a usar o comando QUANDO O CÃO ESTÁ EXECUTANDO O COMPORTAMENTO. Você não usa a palavra para dizer ao cão fazer alguma coisa, você está apenas dizendo a palavra para que ele a associe com o comportamento que executa. Faça isso várias vezes, então, teste o conhecimento dizendo a palavra e veja como ele responde. Se ele ouve e lhe oferece o comportamento (“Espere, espere... ‘Senta’ significa abaixar minhas patas traseiras, certo?”), ótimo, click e recompense. Se ele ouve e não faz nada ou lhe oferece um comportamento diferente, volte ao início (dizendo a palavra quando o cão executa o comportamento) por mais alguns dias.

E claro, uma vez que você tenha o comando “unido” ao comportamento que você quer, use o comando para obter este comportamento. Se você usa o comando e NÃO obtém o comportamento – bom, uma vez é um golpe de sorte. Duas vezes é um problema. Quando você se pega repetindo o comando, ou você dá o comando para um comportamento e obtém outra coisa ou até mesmo o comportamento errado, PARE DE USAR O COMANDO! Volte, capture o comportamento, “reúna” o comando e parta daí.

SOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Não importa qual é o problema, existem três áreas para procurar a solução.

A primeira são os Critérios. Critério é o que você espera do cão. Adestradores inexperientes pedem vários critérios de uma vez só. Por alguma razão, são chamados de “Lumpers” (algo como “exagerados”). São aqueles que buscam um comportamento completo e perfeito logo no começo. Eles querem que o cão “fique”, o adestrador joga um sino no meio da sala, pede para o cão pegá-lo e trazê-lo de volta e então, que ele sente perfeitamente na frente do adestrador, devolva o sino e sente junto ao seu lado esquerdo. Isto é um grande exagero. E se alguma coisa der errado neste caso, é muito difícil de consertar.

Por outro lado, bons adestradores “dividem” os comportamentos em pedaços bem pequenos. Não há nenhum problema em corrigir uma falha em “pegar o sino” se este comportamento for ensinado em seis pequenos estágios. Simplesmente identifique em quais destes estágios está o problema e refaça-o do jeito que quiser.

Exagerar é um dos maiores problemas no departamento dos Critérios. Outro é esquecer quais eram seus critérios. Claro, você pode mudar de idéia sobre o que você quer quando você vê que o que PENSAVA que queria não está funcionando. E se você não se importa no jeito como o cão pega o sino, tudo bem. Mas, se você SE IMPORTA e um dia clica quando o cão segura o sino nos molares, no outro quando ele segura com os caninos e, no outro dia, quando ele o segura nos incisivos, você não consegue capturar nenhum comportamento consistente do cão.

Quando você tem um problema – ou, de preferência, ANTES de você tê-lo – por que não escrever os passos do treinamento para cada comportamento, e exatamente quais são os seus critérios para cada pedacinho?

A segunda área a ser examinada é Índice de Reforço. Adestradores experientes dão informações aos cães cinco vezes mais rápido que os inexperientes. Cães adestrados com o clicker podem trabalhar por vários minutos por vez sem informações adicionais dos adestradores, mas desistirão do adestramento se não tiverem reforços positivos suficientes.

Cães iniciantes não tem tanta resistência e frequentemente são rotulados como “teimosos” ou “entediados”. Na verdade, estes cães só precisam de mais informações. Nos primeiros estágios do adestramento, um cão deve receber cliques PELO MENOS a cada dois segundos. Um cão que não consegue se concentrar no adestramento pode ser atraído para o mesmo através de dez ou vinte petiscos que lhe forem dados, um de cada vez, o mais rápido que o adestrador conseguir. É chamado de Reforço Rápido. É como se o cão dissesse: “Oh! EXISTE uma razão para brincar disso! Que divertido!”.

E, finalmente, para resolver um problema, dê uma olhada no seu Timing. Se você obtém o comportamento que antecede ou precede o comportamento que você realmente quer, você provavelmente não está acertando o comportamento correto com o clique.

AVALIANDO OS NÍVEIS
Leve os Níveis o mais sério que puder. Se está a procura de sugestões de coisas novas para ensinar ao seu cão, é a sua chance. Se você quer apenas se divertir, tudo bem. Se você deseja usar os Níveis como um plano para adestrar seu cão, tenho algumas sugestões sobre passar de um Nível para outro.

Se você tiver alguém para lhe ajudar, peça para que ele “julgue” você e seu cão em cada comportamento. Desta maneira vocês se acostumarão a se apresentar na frente de outras pessoas. Se você não tem ninguém, você mesmo pode testar o cão na maioria dos comportamentos, principalmente nos primeiros Níveis. Mas não vale roubar! O cão precisa ser competente no começo dos comportamentos para ser capaz de se sair bem nos outros. Não passe o cão de Nível até que ele possa lhe oferecer um comportamento em um dia em que você e ele não o tenham treinado.

Todos os comportamentos de um Nível não devem ser ensinados de uma só vez. Teste o cão para cada comportamento quando ele estiver preparado para tanto. Na verdade, você pode “testar” qualquer comportamento de qualquer Nível a qualquer hora, não precisa passar por todos os comportamentos do Nível Um antes de testar um comportamento do Nível Dois. Mas lembre-se que o propósito dos Níveis é lhe mostrar onde podem estar as falhas no treinamento, então, se você pula um comportamento, certifique-se de voltar para ele antes que você avance muito em outras áreas.

Imprima uma “checklist”. Faça uma lista de todos os comportamentos de cada Nível com uma anotação bem curta sobre como foi a performance do cão em cada um deles, examine-as e veja se existe algum comportamento que precise de mais prática.

AZUL E VERMELHO
COMPORTAMENTOS “SEM COMIDA” E COMPORTAMENTOS OPCIONAIS

Alguns comportamentos estão em azul. Estes devem ser testados sem comida ou clicker (ou brinquedos) com você, na mesa ou em qualquer lugar da área do teste. Por quê? Porque ninguém quer passar o resto da vida andando sempre com um pacote com comida pro cachorro. Porque você não pode levar comida nos julgamentos. O cão precisa se apresentar sem a presença de comida ou brinquedos na frente dele, para guiá-lo. Temos que fazer o cão acreditar - (“ter fé”) – que ele SERÁ recompensado, ele vendo / cheirando ou não a recompensa quando pedimos que execute o comportamento. Então, os comportamentos “azuis” começam cedo – no Nível 2 já começamos a querer que o cão tenha um pouco daquela “fé”.

Os comportamentos vermelhos são opcionais. Adestradores diferentes tem objetivos diferentes para os cães. Alguns (especialmente adestradores nos estágios iniciais da mudança do adestramento tradicional para o adestramento com clicker) são desconfiados ao ensinar um cão a Sentar ou a Olhar enquanto anda. Um adestrador pode não querer que um cão muito novo ou muito velho salte, ou ver um uso futuro para a discriminação de odores. Em cada Nível há comportamentos opcionais. No Nível 3, existem oito comportamentos opcionais. Para passar de nível, o cão deve ser testado em quatro deles. No Nível 4, ele também deve passar em 4 de 8 opcionais. No Nível 5, 8 de 11. No Nível 6, 8 de 16 e no Nível 7, 10 de 16, para que o cão possa passar de Nível.

Antes de ir longe demais no Nível Três, é uma boa idéia ler o resto dos Níveis e marcar quais comportamentos opcionais você deseja trabalhar, pois comportamentos de Níveis mais avançados geralmente dependerão dos fundamentos que você tenha colocado nos Níveis anteriores. Uma opção é trabalhar TODOS os comportamentos em todos os Níveis – o cão se torna mais versátil.

UM JOGO BEM LEGAL – “JOÃO BOBO”
Pegue pessoas suficientes para sentar em cadeiras em um círculo, fazendo com que ele fique fechado – assim, uma vez que o cão esteja no círculo, não poderá sair. Você pode brincar com menos pessoas se ficar em um canto ou tiver algo com que bloquear os “buracos” da roda. Todos têm excelentes petiscos, e o adestrador (no caso, você) senta no círculo com outra pessoa.

O jogo pode ser feito de dois jeitos diferentes, dependendo do desejo do adestrador. O objetivo do jogo é ter um cão equilibrado, ou seja, melhorar seu comportamento. Cães tímidos, sérios ou relutantes em conhecer e receber agrados de outras pessoas jogam de um jeito. Cães atrevidos e aqueles que ignoram o adestrador para ver outras pessoas, jogam de outro jeito.

Para cães tímidos, todos menos o adestrador alimentam o cão. Algumas vezes deve-se começar a brincadeira com todos desviando o olhar e segurando o petisco com a mão aberta. Outras vezes, é necessário jogar os petiscos no chão perto do cão para começar. O adestrador não pode alimentá-lo, mas pode dar um “oi” quando ele parar perto. Os outros podem ou não chamá-lo, depende da reação do cão. Eventualmente, as pessoas podem esticar a mão, fazendo com que o cão tímido tenha que tocá-la para ganhar o petisco, mas ninguém quer pegar o cão. É uma experiência totalmente positiva para o cão e, na segunda ou terceira vez que ele brinca, pode até chorar para entrar na roda. O cão se tornará mais calmo, relaxado e amigável.

Para os outros, o jogo é feito do jeito oposto. Todos têm petiscos, mas ninguém pode dar nada ao cão. Toda a roda brinca de Zen com o cão, exceto o adestrador (você). Zen é mais ou menos isso: a pessoa tem o petisco na mão aberta e, quando o cão chega perto para comê-lo, a pessoa a fecha e não o deixa pegar o petisco. Ninguém recompensará o cão de maneira alguma. Ninguém irá falar com ele, olhar para ele ou fazer carinho nele. Se ele colocar as patas em cima de alguém, essa pessoa se levantará ou virará de costas. Nenhuma interação. As OUTRAS pessoas tentarão atrair a atenção do cão, chamando-o “Aqui, aqui, quer um biscoito?” estalando os dedos e assoviando (sem chamar o cão pelo nome). Mas, quando o cão chegar perto delas, elas param. Cedo ou tarde, provavelmente por acidente, ele voltará sua atenção para o adestrador, que lhe dará os petiscos sucessivamente, um de cada vez, então, balança ao mãos e diz ao cão “Vá brincar”. A este comando, as outras pessoas da roda começam a chamá-lo novamente. Logo o cão não deixará sua mãe ou pai por nada no mundo! Também se pode brincar colocando a comida no chão e todos colocando o pé em cima dela, mas é mais anti-higiênico.

Uma das coisas mais legais deste jogo é que convence o cão que as pessoas podem ser totalmente inúteis e que não são ameaçadoras.

Brinque disse por poucos minutos antes do início das aulas semanais de adestramento. Depois de algumas semanas, o jogo que você fará será baseado na atitude do cão naquele dia em particular e, neste ponto, o cão estará bem “equilibrado”.

NO JOGO (IN THE GAME)
Estar “no jogo” é uma maneira de descrever a PRIMEIRA coisa que você DEVE ter antes de adestrar ou trabalhar com seu cão em QUALQUER situação. Por exemplo, duas pessoas estão trabalhando com um cão cada uma em agility. Um cão não sabe exatamente como fazer o slalom mas presta atenção na situação e se esforça para tentar descobrir o que o dono quer. O outro cão sabe fazer o slalom perfeitamente, mas não presta tanta atenção. Com qual cão eu gostaria de trabalhar?

Eu quero trabalhar com aquele que “está no jogo”, está no clima, mesmo que não saiba nada do que deve ser feito.

Muitas pessoas se chateiam porque o cão “se recusa” a fazer o slalom, ou não o fazem da maneira correta, quando o que elas precisam fazer é voltar para o começo. O slalom não é nada se o cão não estiver no clima.

Certo. MAS, como fazer um filhote entrar no clima? Existem pessoas que começam com o filhote no banheiro, por não haver distrações. Não importa onde você irá trabalhar, tome muito cuidado para controlar as oportunidades para fazer outra coisa. Então estabeleça que você quer ser bem sucedido e o cão ficará desesperado para trabalhar. O que quero dizer é: trabalhe quando o cão estiver com fome. E ele não pode precisar fazer suas necessidades, nem passear. Você pode usar a ração do cão, ou petisco caninos, salsicha, o que for melhor. Ou então, pode brincar de cabo-de-guerra com ele.

Se você trabalha com um filhote com fome, que está a espera da janta, e ele vai fazer outra coisa, cancele toda a sessão e vá embora – levando a refeição dele com você, claro. Então, não lhe dê nada até a próxima refeição, quando você trabalhará com ele novamente.

Quando você estiver trabalhando, note – ele está realmente atento por cinco minutos, e então, os problemas surgem? Talvez VOCÊ ESTEJA devagar com o reforço positivo. Alguns cães trabalham melhor se ganham três ou quatro petiscos pequenos (podem ser pellets (bolinhas) da própria ração) do que se ganharem apenas um por clique. Quando o cão perceber que está sendo alimentado, pode diminuir a quantidade de comida oferecida. Já outros cães preferem ganhar menos quantidade, mas precisam receber comida mais vezes para continuarem atentos ao trabalho. Se você estiver trabalhando com um cão cujo interesse evolui menos que o adestramento, é melhor trabalhar com o cão durante metade da refeição e, depois de um comportamento realmente bem feito, oferecer o resto da refeição.

Se “no jogo” é o que você pensa o tempo todo, quando trabalha com o cão, o corpo e a mente do cão começarão a entrar no clima toda vez que você começar a trabalhar. Depois de um tempo, será algo natural para vocês dois, mas só se você mantê-lo como a primeira e mais importante coisa que irá ensinar ao cão. Quanto mais você praticar, mais natural se tornará.

É horrível ver uma pessoa tentando fazer agility (ou qualquer outra coisa) com o cão cheirando e andando por todos os lados. Elas podem até estar trabalhando agility, mas não trabalhando o CÃO.

VOCÊ LEVA PARA O COFRE!
Toda vez que você recompensa seu cão por um comportamento, você está “armazenando” este comportamento. Pense que você coloca uma moeda num copo toda vez que dá um petisco ao seu cão. Chame o cão, ele vem, petisco para ele e uma moeda no copo. Ele vem 100 vezes, você lhe dá 100 petiscos e coloca 100 moedas no copo. Digamos que para seu cão, vir quando chamado vale a pena. Toda vez que você chama o cão e NÃO lhe dá um petisco, está desperdiçando seu dinheiro do “cofre”. Quando você não tiver mais dinheiro no copo, você também não obterá mais o comportamento.

Cada comportamento tem um valor diferente para cada cão. Para alguns, pegar algo e levar ao dono é um comportamento barato. São cães que gostam de buscar coisas, o fazem se sentir bem fazendo isso. Esses cães podem “vender” 3 buscas por um centavo, ou 50 buscas por um real. Mas, para esse mesmo cão, ir para a caixa de transporte pode ser um comportamento caro. Um exemplo são os cães de serviço, que precisam ficar com o dono o tempo todo, ou seja, estão ACOSTUMADOS a ficar com o dono o tempo todo. Ir para a caixa de transporte e ter que ouvir o dono tirar o casaco e pegar as chaves do carro é um insulto para eles. Ir para a caixa de transporte é um comportamento que vale 50 centavos, e é MELHOR ter esse dinheiro antes de PENSAR em colocá-lo na caixa sem um petisco, ou haverá problemas na próxima vez.

Fonte: http://dragonflyllama.com/%20DOGS/Levels/LevelBehaviours/LevelsBook.html

8 comentários:

Anônimo disse...

Show!!! Parabéns pelo post!!!

Eu já havia visto o site em inglês, mas a preguiça de traduzir falou mais alto xD
Muitíssimo obrigada por me poupar desse trabalho!!! Traduzir isso vai ajudar muitos que não leêm em inglês!

Além do post, queria te parabenizar pelo blog! Muitas informações importantes, em linguagem simples, os donos sentem muita falta de coisas assim! Parabéns pelo blog e pelas maravilhosas postagens!

Fúlvia e Suzie disse...

Oi, Paula!

Obrigada, que bom que você gostou, tanto da tradução quanto do blog em si. Sempre postarei novidades aqui, coisas difíceis de se encontrar no Brasil.

Divirta-se com seu peludo e com os níveis!

Anônimo disse...

Claro!!! Estamos precisando muito de coisas em português!

Pode só me tirar uma dúvida?
Os comportamento "azuis", sem o uso de petisco ou clicker no local de treinamento, após o comando o cão recberá petisco, mesmo que esteja em outra sala, ou não haverá mesmo petisco após o truque?

Fúlvia e Suzie disse...

Oi Paula!

Então, depois que o cão faz o comportamento (dos "azuis"), pode sim dar o petisco.
Aqui eu faço assim: deixo petiscos e clicker na cozinha (pq "apertamento" não tem muita saída) e faço com a Suzie na sala. Depois dela fazer, a gente vai juntas pra cozinha e ela ganha o petisco. Claro que às vezes mudo o lugar onde estão os petiscos e o lugar onde ela deve fazer os comportamentos.

No final, o ato de correr pra ganhar o petisco (sem clique) acaba sendo uma recompensa. Assim, eles aprendem a nos obedecer mesmo quando nao temos petisco por perto, mas sabendo que vão ganhar.

Beijos!
Ful

Fúlvia e Suzie disse...

Ah sim: alguns comportamentos podem ser encarados pelo cão como a própria recompensa. No nosso caso, é eu ajoelhar e deixar que a Suzie me "abrace" e me encha de beijos.
Acaba se tornando uma recompensa boa quando estamos passeando na rua e nao temos nada a oferecer, além do nosso carinho, não é mesmo?

Anônimo disse...

Ahhh sim, eu estava na dúvida...na verdade eu comecei o treinamento da Cindy sem muuuuuuitos critérios, fui ensinando como achava que estava certo, baseada em textos até que bons, mas não entendia 100% então fazia meio errado. Meu principal erro sempre foi não usar petiscos interessantes pra ela, a ponto que ela fazia devido a minha insistência. Nos primeiros meses ela fazia até que bastante certo (olha o video dela com oito meses: http://br.youtube.com/watch?v=mBOazHc2rm8 p.s.: O video ficou com uma qualidade horrivel, minha voz e da minha prima ficaram estridentes, enfim, o video ficou horrivel, mas dá pra ver alguns truques dela xD) Como ela ficou muito estressada morando em apartamento, ela se mudou pra casa da minha avó, e como eu não a via tão frequentemente, os truques se deterioraram, ela passou a não fazer vários, e os que fazia eram sem vontade. Vamos passar a morar com a minha avó, e vou treinar ela novamente, por isso voltei a pesquisar sobre adestramento. Quando vi esse blog encontrei muitas dicas interessantissímas, que estão me ajudando a entender melhor o espírito da coisa. Esses posts sobre o livro dos níveis de treinamento é ótimo, pois é uma boa base de o que treinar, como, como incrementar, como solucionar problemas. Minha dúvida em relação aos truques azuis foi essa, pq os truques já estão meio deteriorados, sem recompensar então UASHuASuA. Mas agora entendi isso. Sem dúvida carinho é um ótimo prêmio, uso principalmente em "truques" na rua tipo, sentar antes de atravessar a rua, andar ao meu lado, etc. A Suzie é uma menina de sorte viu? Com uma dona dessas ela deve ser a cadela mais sortuda do mundo :D

beijão fúlvia!

Fúlvia e Suzie disse...

Lindo o vídeo da sua menina! Ela sabe fazer muitaaaa coisa também, parabéns!!!

maybe disse...
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