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sábado, 28 de abril de 2012

Como funciona a obediência canina

Os cães, assim como qualquer animal que tenha cérebro, fazem aquilo que funciona.

O comportamento está, digamos assim, sob controle de consequências, então, a obediência canina nada mais é que prover consequências ao cão. Existem quatro tipos de consequências:

1. Coisas boas começam (reforço positivo)
2. Coisas boas acabam (punição negativa)
3. Coisas ruins começam (punição positiva)
4. Coisas ruins acabam (reforço negativo)

O cão constantemente tenta começar algo bom, terminar algum ruim, evitar acabar com algo bom e evitar começar algo ruim. Quando sabemos disso, conseguimos controlar nosso cão.

Algumas vezes não sabemos direito o que é "bom" e "ruim" para o cão e acabamos reforçando exatamente um comportamento que não desejamos, além de perder oportunidades valiosas.

Vamos lá. Você tem acesso a tudo o que seu cão gosta: comida, o mundo lá fora, atenção, outros cães, odores, brincadeiras. Os brinquedos criam vida quando na sua mão! Você tem polegares opostos que podem abrir portas e potes. Muitos reconhecem isso, mas ainda assim esperam que o cão obedeça por gratidão: já que proporcionamos tudo isso, nada mais justo que ele nos obedeça. Isso só vai funcionar se você fizer o cão fazer a parte dele PRIMEIRO em toda e qualquer troca. Ou seja, você deve fazer de um jeito que, se o cão quiser brincar com outros cães no parque ou que a porta da frente seja aberta, ele precisa obedecer primeiro. Lembre-se: ele precisa fazer a parte dele ANTES e então você providencia o que ele quer. Assim ele verá a obediência como o meio de obter o que quer, ao invés de pensar que é algo que interfere no que ele quer.

Controle as coisas boas da vida do seu cão - pare de dá-las gratuitamente. Afinal, nada é de graça: você sempre reforça algo quando abre a porta, passeia com o cão, começa uma brincadeira. Isso porque o cão sempre está fazendo algo e este algo é reforçado quando algo bom acontece. Esteja ciente disso e selecione o comportamento que deseja reforçar ao invés de reforçar qualquer coisa que o cão estiver fazendo naquele segundo. Esteja preparado para negar o reforço se o cão não obedecer.

A recompensa tende a ser mais potente depois de um período de privação: um cão com fome trabalha mais que um saciado, por exemplo. Já, para um cão que comeu bastante, a comida pode até se tornar um aversivo.

Cães aprendem a reconhecer quando uma consequência boa ou ruim é provável porque, naturalmente, situações diferentes pedem estratégias comportamentais diferentes: as "dicas" do ambiente mostram quando aquele comportamento será bem sucedido. Por exemplo: quando colocamos dinheiro numa máquina de doces, recebemos um chocolate; se colocamos dinheiro na lata de lixo, nada acontece. Então, não colocamos dinheiro na lata do lixo. "Bem sucedido", em termos de aprendizagem, significa que aquele comportamento foi recompensado. Começou algo bom ou terminou algo ruim. Ou seja, funcionou. Um comportamento que funciona fica mais forte. Isso é lei, aplicável a todos os animais (incluindo nós). Essa é a essência da educação canina.


Suzie deita para poder brincar com seu brinquedinho predileto

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Meu cachorro SABE que fez a coisa errada

Semana passada escrevi um artigo sobre cães que aprontam quando os donos não estão em casa, destruindo as coisas, e que os donos juram que eles sabem que fizeram errado por conta da "cara de culpa". Quer saber mais? Acesse aqui e descubra o que é, na verdade, a cara de culpa do seu cão.

sábado, 7 de abril de 2012

Cães e crianças

Vira e mexe me perguntam: cães e crianças podem conviver juntos? Respondo: SIM. Mas é óbvio que o cão precisa ser acostumado a elas, aprender a gostar delas, brincar com elas, ficar relaxado ao lado delas.

As fotos abaixo mostram que, aqui em casa, isso funciona muito bem. Claro que isso não aconteceu da noite para o dia, deu trabalho, mas isso compensou, e muito! Para saber mais, acesse meu outro site: http://maescomcaes.blogspot.com

E agora, com mais um a caminho, também habituarei a Suzie a novas condições e estilo de vida. Mas isso ela já está super acostumada e terá a irmãzinha pra atender suas necessidades de brincar.



quinta-feira, 5 de abril de 2012

Dominância?

Hoje em dia já não se cogita mais falar que o cão é dominante sobre o dono, simplesmente porque não há dominância entre espécies diferentes. O que existe é que o cão não sabe como se comportar naquele contexto, seja porque não foi devidamente socializado naquela situação ou por não conseguir lidar com ela (não foi educado). Mas isso não significa dominância. Então, quando alguém falar que o cão faz determinado comportamento porque quer dominar os donos, não é verdade. Pesquisas recentes já indicam que isso é uma maneira simplista de explicar algo mais complexo, que requer estudo.

Exemplo: o cão pula no dono. Em uma visão mais simplista, alguém poderia dizer que ele faz isso porque é dominante, porque quer te dominar, porque te vê como um subordinado e por aí vai. Mas não se chega a conclusão alguma sobre o MOTIVO que leva o cão a pular. Ele está recepcionando o dono? Está excitado? Está chamando atenção? Querendo brincar? E não: ele não está sendo dominante.

Outros comportamentos que a maioria das pessoas atribuem à dominância:

1. Morder / agressividade, principalmente direcionada às pessoas de casa
2. Puxar a guia
3. Fazer xixi/coco pela casa, principalmente quando é na nossa cama
4. Roer objetos
5. Pular nas pessoas, colocar a pata em cima
6. Não vir quando chamado
7. Pedir comida
8. Passar primeiro na porta
9. Dormir nos móveis
10. Roubar lixo/roupas

Estes são mais problemas de uma falta de orientação do dono sobre qual é o comportamento adequado para que o cão conviva bem na nossa sociedade humana. Se ele pula nas pessoas é porque nunca aprendeu que, para recepcioná-las, o mais adequado seria sentar; se ele não vem quando chamado não é porque está testando nossa liderança, mas será que ele foi educado para tanto, ou está entretido com outra coisa e não o ouviu? E assim por diante.

Existem também muitos mitos relacionados à dominância.

1. O dono é visto como parte da matilha: impossível, já que uma matilha é composta por indivíduos da mesma espécie e o cão não nos vê como outro cão. Além do mais, temos muita dificuldade em entender e nos comunicar com nossos cães, já que nossa linguagem é diferente.
2. O cão alfa é agressivo e encrenqueiro: mentira. O cão alfa é seguro de si, não briga, não rosna, divide as suas coisas quando quer.
3. O cão alfa nasce alfa: isso não é algo que nasce com o cão, depende de outros fatores, como experiências passadas, tamanho, peso, aptidão física, relações sociais, mudanças ocorridas com a idade etc.
4. O dono deve agir como alfa para ter um cão comportado: como dito antes, não há possibilidade disso, já que a hierarquia de dominância (termo correto) só ocorre entre indivíduos da mesma espécie.
5. É válido o dono se impor ao cão pela força: isso pode se tornar perigoso e é inadequado para os cães e nosso relacionamento com eles, além de poder causar desvios comportamentais por medo, o que indica que a técnica não funciona.
6. Disputas entre cães da casa são motivadas pela dominância: há regras hierárquicas entre os cães da mesma casa. Um cão pode reivindicar prioridade em certas coisas (carinho, brinquedo, lugar para descansar), mas o faz por meio de olhares ou com um rosnado baixo, sem brigar. Algo comum que vemos em casas que têm mais de um cão é: um dos cães ser o líder no acesso aos brinquedos, mas o outro o é no lugar para dormir. Claro que cabe a nós, donos, impormos limites e socializarmos muito, muito, muito bem nossos cães (um cão mal socializado tende a brigar mais e por qualquer coisa).
7. Brigas com cães desconhecidos são devido à dominância: isso acontece porque eles não conhecem a linguagem um do outro (problema que pode ser evitado com a... socialização!).
8. O cão dominante disputa para acasalar com a fêmea: quem já viu cães de rua, sabe que isso não é verdade: é a fêmea quem escolhe com qual macho irá acasalar.
9. Fêmeas no cio brigam por disputa hierárquica: isso se deve pelos hormônios que circulam na fêmea nesta época, deixando mais agressiva. Ou seja, é fisiológico.

Hoje em dia já está mais disseminado que somos como pais para nossos cães, e não "alfas". Por isso que a educação canina hoje é sem castigo: ignora-se o mal comportamento e recompensa-se o desejado. Nada de utilizar da força física, mas sim da nossa inteligência. E assim conseguimos ensinar tudo o que queremos de boas maneiras aos nossos cães, sem precisarmos brigar, gritar, puxar a guia, bater, e tantas outras coisas que vemos por aí.

 Quando nos relacionamos como pais com os nossos cães, torna-se muito mais natural sua educação (e mais agradável) do que se nos considerarmos líderes

Então, o que é preciso para educarmos nossos cães? Até pouco tempo atrás, acreditava-se que precisávamos ser dominantes perante eles, usarmos de força física, métodos coercivos, punições. Até hoje vemos muitos cães sendo "educados" com trancos na guia, beliscões, chutes, choques... Quando um cão aprende por meio destes métodos, ele responde aos nossos comandos por MEDO, para evitar algo desagradável. Você gostaria de aprender assim? O certo é educarmos nossos cães com paciência, consistência, premiando o bom comportamento e ignorando o que consideramos errado (mas prevenir que o errado aconteça é melhor). Para isso, todos que vivem com o cão devem ser consistentes quanto às regras. O cão pode subir no sofá? Pode entrar nos quartos? Se não houver uma regra clara, não podemos culpar o cão por fazer o que não queremos (mas que outra pessoa que mora com a gente deixa-o fazer).

Outro aspecto positivo quando usamos de nossa inteligência e não força bruta é que o cão fica muito mais confiante: aprende mais rápido, fica mais relaxado em variadas situações e é um cão mais fácil de se conviver. O processo de educação começa com o cão ainda filhote: proporcionando socialização intensa (pessoas, ambientes, animais, cães, objetos, barulhos) e obediência básica ("senta", "fica", "vem"), que nos ajudam a controlar o comportamento do cão.

Existe ainda mais a ser abordado sobre este assunto, principalmente sobre os métodos usados para se educar (e até mesmo brincadeiras) baseados na teoria da dominância, mas fica para um próximo post.

Se quiserem saber mais sobre o assunto, recomendo a leitura destas matérias:
http://caosciencia.blogspot.com.br/search?q=domin%C3%A2ncia
http://www.dogstardaily.com/search/node/dominance

Fonte: livro "Culture Clash", site do Dr. Ian Dunbar e revista "Cães e Cia"