Escolhas…
Todos nós, humanos e animais, fazemos nossas escolhas baseados nos
resultados que obtivemos de consequências do ambiente. Alguns
exemplos: latir para chamar atenção ao invés de deitar (porque,
provavelmente, nós damos mais atenção – por meio de broncas, que
também são um tipo de atenção – quando ele late do que quando
vai deitar na caminha dele). Em comportamento aplicado, isto tem um
nome: “lei da igualação” (tradução livre de “Matching
Law”). Esta lei influencia não apenas diretamente o comportamento
do animal, mas também a eficiência no treino dele.
As
escolhas que fazemos são o resultado de inúmeras variáveis, tais
como a quantidade de recompensas (quantas vezes fomos recompensados
por certo comportamento), a qualidade da recompensa (o quanto a
apreciamos), ou o atraso da recompensa (o quão cedo a recebemos). As
chances de escolher um comportamento em detrimento do outro estão
diretamente relacionadas a quanto este comportamento foi
recompensado. Digamos que o cão foi recompensado 10 vezes quando
sentou à sua frente e 5 vezes quando sentou ao seu lado. Como
resultado, este cão tenderá a sentar mais à sua frente que ao seu
lado.
Esta
lei foi “descoberta” por R. J. Hernstein. Ao trabalhar com
pombos, percebeu que eles bicavam mais um botão que o outro e isto
estava diretamente relacionado com as recompensas que recebiam. Por
exemplo: se 70% das recompensas eram dadas quando eles bicavam o
botão direito, o pombo bicaria o botão direito 70% das vezes, por
isto o termo “lei da igualação”.
Por
que é importante termos em mente esta lei quando trabalhamos com
cães ou outros animais? As razões são:
1
→ Se confrontados com dois comportamentos possíveis, um animal
tende a escolher aquele que foi mais recompensado. Por isso é
importante proporcionar condições nas quais fazer a “escolha
certa” seja mais fácil que a outra alternativa. Um treino
eficiente inclui manejar o ambiente para que as “escolhas certas”
precisem de pouco esforço para serem realizadas e recebam muitas
recompensas imediatamente. Um exemplo é, quando mantemos um filhote
confinado ou sob constante supervisão enquanto o levamos para o
banheiro a cada meia hora e o recompensamos quando fizer xixi e/ou
coco no lugar certo. Quanto menor o número de acidentes, mais rápido
e mais eficaz é o treino.
2
→ Cada vez que recompensamos comportamentos indesejados, reduzimos
a força dos desejados. Se queremos um “senta” perfeito, alinhado
em relação ao nosso corpo (exigência em competições), devemos
evitar recompensar qualquer “senta” que não se enquadre neste
critério, ou se o cão se sentar devagar demais. De acordo com a lei
de igualação, a cada “senta” errado que recompensamos, menores
as chances de obtermos o “senta” perfeito.
3
→ Quando usamos shaping, quanto mais tempo ficamos em um
comportamento intermediário, mais forte este comportamento se torna.
Se tentamos que cada passo seja perfeito antes de irmos para o
próximo, ao invés de irmos muito rápido, tornamos estes
comportamentos mais fortes e, consequentemente, com mais tendência
de serem repetidos. Acreditamos que quando trabalhamos com o shaping
em um comportamento o tornamos mais forte. Se aplicamos a lei de
igualação, isto não é verdade. No shaping, leva-se cerca de 20 a
40 (ou mais) repetições para conseguirmos o comportamento desejado.
Durante uma sessão de treino, tendemos a recompensar o cão mais
vezes nos comportamentos intermediários que no comportamento final.
Quando usamos o luring, ou seja, quando guiamos o cão, o
comportamento desejado é alcançado mais rápido então, no final,
este comportamento (o final) terá um histórico de recompensas maior
que os intermediários.
4
→ Precisamos nos certificar de não recompensar comportamentos que
não queremos. Se estamos ensinando o cão a sentar e o recompensamos
quando ele colocar seu peso de lado (ele vai sentar “tortinho”),
este comportamento é que será repetido. Se não quisermos competir
em obediência, isso não é um problema. Mas, se nosso objetivo são
as provas, nos livrar deste comportamento errado demandará muito
mais tempo do que treinar certo desde o começo.
São
apenas alguns exemplos de como a lei de igualação influenciam a
eficácia de nossos treinos. Também podemos ver como ela funciona na
modificação de comportamentos. No
treino de cães podemos identificar muitos casos onde esta lei se
aplica e pode ser usada para modificar o ambiente para resultados
melhores e mais rápidos.
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